Um truque de luz
A iluminação é um dos pilares fundamentais do audiovisual. Muito antes do surgimento do cinema, técnicas de iluminação já denunciavam sua importância. Já no Mito da Caverna, de Platão, uma fogueira projetava sombras na parede de rocha, que criavam a ilusão de outra realidade para os que estavam presos no fundo dela. Na manhã dessa terça-feira, 5 de novembro, os alunos da UCS puderam aprender mais sobre os truques que envolvem a direção de fotografia. Foi quando ocorreu a palestra “Fotografia para Audiovisual”, ministrada por Daniel Herrera e Paquito Masiá, parte da Semana Acadêmica da Comunicação.
Herrera e Masiá, ambos formados em Fotografia, possuem uma produtora e contam com um vasto currículo de atuação em curtas e longas-metragens. “A luz maquia as falhas da vida real”, afirma Masiá. Ele cita exemplos contando que precisava destacar o maquinário de uma empresa durante a produção de um vídeo institucional. Esse maquinário, contudo, estava com a pintura descascada e com diversas rachaduras. Por meio de um jogo de luz e sombra, ela pareceu nova em folha na câmera.
“A iluminação deve inibir o que não deve ser mostrado e ressaltar o que deve ser visto”, aponta Herrera. “Na produção de uma vídeo instrução, se tu não iluminar corretamente um parafuso que faz parte da montagem do produto, ele pode sumir da narrativa”, acrescenta. Masiá lembra de outros casos em que a iluminação correta pode salvar vidas. “Uma vez fizemos um catálogo de produtos plásticos, brancos, na frente de um fundo branco. Sem uma luz que criasse contraste, não se veria nada”, relata.
O domínio da técnica é salvador também quando há dificuldades orçamentarias, já que a iluminação representa um dos elementos mais custosos – e menos práticos – na produção audiovisual.”Uma vez estávamos filmando em um estúdio minúsculo, onde não cabiam mais holofotes. Tivemos que refletir a luz em mais de 300 espelhos”, relembra Masiá. Em caso de necessidade, ambos já apelaram até mesmo para o uso de placas de isopor para substituir um rebatedor para equilibrar a luz no set.
Herrara e Masiá comentaram também sobre a inexistência de uma regra geral para iluminação: “É preciso entender a proposta de cada produção”, ressalta Masiá. No documentário, por exemplo, recomenda-se o uso de luz natural. “Uma luz muito forte na cara do entrevistado pode até deixá-lo nervoso e alterar o teor de seu depoimento”, explica. Jogos de luz e sombra são desnecessários em vídeos institucionais, já que o objetivo final é apenas exibir o produto da forma mais nítida possível. “É na ficção e na publicidade que temos mais liberdade de experimentação”, finaliza Herrara.
Tradicionalmente, o diretor de fotografia é o responsável, além da iluminação, pelo enquadramento e pelos equipamentos da produção. Junto com o diretor, ele é um dos mais altos cargos na hierarquia em um set. E que caminho o acadêmico deve trilhar até chegar nessa posição?
Masiá explica que a primeira coisa que o aspirante deve fazer é buscar referência nas artes, em especial no cinema e no teatro. E depois, começar “de baixo” em produções reais. “Nós começamos enrolando cabos. E, na verdade, fazemos isso até hoje”, confessa, acrescentando que ele até já assumiu funções de eletricista em seus trabalhos. Mas além do conhecimento artístico e do autodidatismo, um conhecimento do ramo das exatas é fundamental. “A pessoa precisa entender de física. Iluminação é pura física. Afinal, a luz não faz curvas”, conclui Masiá.
Texto: Pedro Rech
Fotos: Hugo Araújo