Respeito, leveza e histórias pra contar
Pode-se dizer que essa foi uma semana agitada para todas as pessoas que circulam pelo Centro de Ciências da Comunicação: 11 painelistas, 4 painéis temáticos e apenas 2 dias. Sem dúvida um desafio para quem não queria perder um segundo de toda essa força-tarefa da Comunicação.
Meia hora de ansiedade
Na última quarta-feira, 11 de junho, o hall do Bloco H ficou lotado de estudantes de todos os cursos da Comunicação que estavam lá para ver as jornalistas Alice Bastos Neves, âncora do programa televisivo Globo Esporte, e Denise Dambros, social media e redatora web do programa Casseta e Planeta. O painel começou com 30 minutos de atraso, mas, isso não foi motivo para afastar o grande público que aguardou pacientemente o início do Painel Jornalismo Plural. A cantora mirim Laura Schadeck, de Farroupilha, deu início ao evento, cantando duas músicas para, só então, as painelistas subirem ao palco.
Alice e Denise estavam acompanhadas do coordenador do curso de Jornalismo, Álvaro Benevenuto Jr., mediador do painel que acabou se tornando um grande bate-papo com os alunos: “Se é para quebrar o protocolo, vamos quebrar mesmo”, disse o coordenador ao avisar que as duas palestrantes conversariam com o público, e não apenas uma de cada vez, como em uma palestra tradicional.
A palestra começou com Alice Bastos Neves, que contou como foi sua trajetória no Jornalismo até assumir o comando do programa Globo Esporte: “Eu não sabia nada de TV, só o que as disciplinas da faculdade ensinaram. Queria ser jornalista da editoria de cultura em alguma revista”, comentou. Já Denise Dambros, que é formada em Jornalismo pela UCS, falou para o público que foi para o Rio de Janeiro em 2010, época em que conhecia apenas 3 pessoas na cidade e que, antes disso, ela trabalhou em uma rádio comunitária do Campus, com o programa “Brega Show”, que trazia humor, informação e música. O professor Álvaro aproveitou o fato para dizer que foi ali que Denise descobriu o humor no trabalho e a jornalista, que estava matando a saudade de Caxias, acabou confessando que, ainda aos 15 anos, ela já vinha até a UCS se apresentar como contorcionista! “Muito antes do Brega Show eu já estava nesses palcos da UCS me torcendo e contorcendo”.
Histórias pra contar
Como estávamos em um verdadeiro bate-papo, várias perguntas chegavam até as mãos do professor Álvaro, que interrogava as painelistas de forma bastante descontraída. Devido à proximidade da Copa do Mundo nesse dia (um dia antes do evento), várias perguntas sobre o Mundial foram direcionadas para Alice Bastos Neves que, em uma das questões, respondeu que “toda história tem que ter MEF: Magia, encantamento e fantasia. As notícias são muito parecidas, é difícil algo realmente novo”. Sobre a questão de a televisão ter a internet como concorrente, Alice diz acreditar que o que influencia os telespectadores a continuarem assistindo o Globo Esporte é o material que o programa tem para oferecer: “Tem quer ter algo que prenda as pessoas nesses 25 minutos de Globo Esporte, entre o Jornal do Almoço e o Jornal Hoje. Alguma coisa que faça até quem não gosta de futebol se interessar pela história que está sendo contada”. Aproveitando o momento em que falou do programa, Alice apresentou seu quadro no GE: o #VemAlice, quadro onde ela vai até determinado lugar e conhece um pouco mais da história de vida das pessoas que estão envolvidas com o esporte dessa cidade.
Preconceito sem graça
Quando as perguntas se direcionaram para Denise, o foco foi do esporte para o humor no jornalismo, algo que Denise entende muito bem. A jornalista, que escreveu sua monografia baseada em alguns programas de rádio da serra gaúcha, comentou que, no início de sua carreira, ela trabalhou no rádio lendo notas de falecimento e que, o humor, impossível de se fazer presente nesse tipo de trabalho, é o que vai cativar de fato as pessoas: “Se você noticiar algo com humor, em forma de piada, vai ser muito mais fácil para a pessoa gravar essa informação. O Jornalismo não precisa ser sempre sério e feito atrás de uma bancada”. Ainda sobre trabalhar com humor, Denise conta que o humor na web é mais fácil que o ao vivo, quando confessa ao público seu nervosismo “Diferente do computador, eu não posso desligar vocês. Então, se vocês começarem a me olhar com cara de tédio, eu não vou saber o que fazer”. Mesmo arrancando gargalhadas do público em muitos momentos, a caxiense diz ter sofrido muito preconceito por ser mulher e trabalhar com humor: “Sofri preconceito, por que as pessoas acham que mulher não tem graça nessa área. Quando a mulher se apresenta em um stand-up, por exemplo, é a hora que você levanta e vai ao banheiro, porque não acha graça nenhuma”.
Alice, que trabalha noticiando esportes, disse não ter sofrido preconceito no trabalho e acredita que isso se deve ao fato de haver outras mulheres neste mesmo campo jornalístico antes dela, o que teria diminuído esse possível preconceito: “Quando eu entrei para o jornalismo esportivo não passei por isso, mas, ainda assim, é mais comum ver a mulher apenas como apresentadora ou repórter esportiva. Alguém aí já viu uma mulher que é comentarista? Não tem! Eu, pelo menos, nunca vi. É como se nessa área, apenas o homem pudesse dar uma opinião correta ainda”, afirma.
Conheça seu público
Quando faltavam apenas 5 minutos para o término do painel, o professor Álvaro fez aquela que seria a última (e talvez mais importante) pergunta do evento: “Quais os desafios do jornalismo?”. Alice acredita que o maior desafio encontrado no Jornalismo, é sempre encontrar a leveza ao noticiar qualquer evento e que, além disso, o segredo do jornalismo atual é a proximidade com o telespectador, a vontade de conhecer e valorizar o seu público, pois todas as pessoas tem suas histórias para contar. O segredo do Jornalismo para Denise está no respeito do jornalista pelo seu leitor ou telespectador, no fato de saber com quem (ou para quem) você está falando e, sobre isso, exemplifica: “A TV não pode se fechar para a internet, senão, a internet roubará esse espaço e já está fazendo isso com programas como ‘Porta dos Fundos’, ‘Parafernalha’, ‘Galo Frito’ e etc. O telespectador quer ter essa autonomia de decidir quando e como quer assistir determinado programa”, afirma.
Texto: Carina Santos
Fotos: Candice Kipper