O outro lado de um comunicador – parte 2
Ao dar os primeiros passos e tentar coordenar o próprio corpo, uma criança já está fundamentando a sua alfabetização. A pulsação regular e o domínio rítmico acompanham esse processo de coordenação e são fundamentais para qualquer atividade cognitiva, conforme o coordenador pedagógico Carlos Nadalim.
Ele ressalta que as crianças precisam adquirir equilíbrio, orientação no espaço e ainda emitir resposta num tempo adequado para certos comandos e instruções verbais. “Minha experiência no campo musical ajudou-me a perceber como as crianças não têm mais uma pulsação regular, um domínio rítmico do corpo, e como tudo isso afeta o desempenho delas em praticamente todas as áreas.”
Nadalim destaca que no ensino desenvolvido na escola onde atua, o momento da alfabetização e da leitura é precedido pelo treinamento corporal. Ele exemplifica que no Brasil existem mitos, onde se diz que se uma pessoa tem baixo desempenho em música, ela não nasceu com o dom para isso. Na verdade, o que faltou foram as estimulações adequadas durante a infância, pois todas as pessoas nascem com aptidão musical, para calcular, para ler, para coordenar os movimentos e para educar o próprio corpo, exceto por conta de alguma patologia. A autora Lubienska de Lenval em seu livro “A Educação do Homem Consciente” (Vide Editorial) diz que as crianças precisam, em um primeiro momento no processo educacional, aprender a andar, pois está em jogo o treinamento do ritmo e da regularização da pulsação. Para isso, ela adota os exercícios da educadora italiana Maria Montessori.
Já na leitura, tem-se a falsa ideia que ler é sinônimo de compreender, porém durante uma conversa, pode-se compreender tudo o que o outro fala, mas ninguém está lendo, ou seja, a compreensão não é um aspecto exclusivo da leitura, segundo Carlos. Ele esclarece que o objetivo da leitura é a compreensão, mas a leitura em si é uma técnica. “Essa técnica é da decodificação, ou seja, converter grafemas em fonemas. Então, só há um método capaz de realizar isso de forma eficaz. E esse método é o fônico – muito diferente dos métodos silábico e global, empregados atualmente nas escolas”.
O gosto pela leitura não está atrelado ao conteúdo do que a criança lê, mas ao domínio da técnica. Na formação de um futuro leitor hábil, outro aspecto relevante também é a estimulação por meio da imitação, a criança começa a se interessar por livros observando os pais lerem, por exemplo.
O processo que forma um futuro comunicador é integral e relaciona mais áreas do se pode imaginar. O que inicia com a tentativa de coordenar o próprio corpo, desdobra-se mais tarde no resultado de um período decisivo. Após os primeiros anos de vida, o que ocorre é o aperfeiçoamento daquilo que já foi adquirido. Mesmo que a situação não seja aparente por conta de processos mais egocêntricos como a aculturação, os primeiros anos de vida são decisivos para o processo de alfabetização e comunicação, conclui Nadalim.
Carlos Nadalim é coordenador pedagógico na Escola Mundo do Balão Mágico em Londrina – PR e criou o blog Como Educar Seus Filhos, que trata da pré-alfabetização infantil. Ele já ensinou cerca de 350 pessoas a alfabetizarem seus filhos em casa através do blog, que traz a proposta de um ensino por meio do método fônico.
Confira aqui a primeira parte da matéria “O outro lado de um comunicador”.
Texto: Franciele Lorenzett
Imagem: Juliana Boijink Bovo