Las Margaritas
O que uma Saboaria Popular tem a ver com um Doutorado em Educação?
- por Branca Solio
- em Leia ainda
- — 10 jul, 2020

Pesquisa participante como ação político-pedagógica é o que mobiliza a tese da doutoranda em Educação Joanne Cristina Pedro na tentativa de responder essa questão.
Joanne encontrou, durante suas pesquisas de Mestrado e Doutorado em Educação UCS, não somente um campo de investigação. Ela encontrou uma rede de participação social e educativa liderada por trabalhadoras na busca de melhores condições de vida.
O nome e a logomarca chamam a atenção: Saboaria Popular Las Margaritas. À primeira vista parece um empreendimento voltado ao público feminino. Também sugere abranger a área dos cuidados corporais. Ainda, pode lembrar uma proposta ecológica que une conceitos em alta como produtos naturais com efeitos medicinais. Os sabões de limpeza para uso doméstico e sabonetes artesanais à base de ervas, essências e frutas são de bom gosto e as embalagens não ficam a dever.
Quem mostra o que a Saboaria Popular Las Margaritas, em Caxias do Sul, tem de diferente – e valioso – é a doutoranda em Educação da UCS Joanne Cristina Pedro. Ela é participante da ação coletiva que reuniu um grupo de mulheres da periferia em busca de alternativa de geração de trabalho e renda. Inaugurada em maio de 2020, durante a pandemia da Covid-19, a Saboaria Popular Las Margaritas tem sido uma forma de amenizar a situação de vulnerabilidade das famílias de mulheres que atuam nesse espaço produtivo e educativo.
Pesquisa participante como ação político-pedagógica
Joanne é psicóloga e durante o Mestrado em Educação na UCS (2016-2017), ao estudar os “territórios educativos” e a aprendizagem “além-muros”, atuou na EMEF Rubem Alves, de Vila Ipê, no bairro da Zona Norte de Caxias do Sul.
De sua relação e envolvimento com a comunidade local, surgiu o projeto de Doutorado, em 2018, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UCS, no qual investiga “as mediações pedagógicas implicadas na ação educativa dos movimentos sociais nos territórios periféricos”. O pano de fundo da pesquisa foi o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), organização popular de alcance nacional, com atuação no bairro Santa Fé, dentre outras regiões periféricas da cidade. A professora Nilda Stecanela é a orientadora da pesquisa e o professor Sandro de Castro Pitano é o coorientador.
Cooperação e Formação
“A concepção da saboaria pauta-se na compreensão do trabalho como princípio educativo e também como um dos elementos responsáveis pela construção da nossa humanização, além de espaço social inspirado por modelos de economia alternativos, baseados na solidariedade, na autonomia e na autogestão de trabalhadoras livremente associadas”, explica a doutoranda.
Parcerias e troca de experiências
Dois meses depois de inaugurada, a saboaria está nas redes sociais para divulgar e vender seus produtos. Também está organizando um banco de receitas, buscando aprimorar a produção em uma linha natural e ecológica, utilizando o mínimo possível de processos químicos.
Para manter a produção funcionando, além de garantir um estoque de matéria-prima (ervas aromáticas, álcool de cerais, bases glicerinadas, manteigas vegetais, extratos, corantes naturais, dentre outras), o grupo planeja construir uma rede de doação de óleo de cozinha usado, prevendo a colaboração de restaurantes, pastelarias e pessoas físicas.
Planos futuros
Há, também, a perspectiva, em médio prazo, de ampliar a rede da produção de conhecimentos em processos de elaboração de sabonetes e sabões que sejam naturais, biodegradáveis, orgânicos e livres de sofrimento animal.
A assessoria técnica do projeto vem sendo construída na troca de experiências com a biofarmacêutica Carmen Maria Simões Pires Alves Mendina. Já o processo de desenvolvimento da marca e do conceito da saboaria deram-se no grupo de mulheres, com a colaboração da designer gráfica Laura Wahlbrink Padilha.
“Las Margaritas também reforçam o pensamento de que se pode acabar com uma flor, mas nunca com a chegada da primavera, homenageando todas que já lutaram pela liberdade e pelo poder popular, florescendo a semente cultivada no imaginário coletivo de muitas que se inspiram a seguir lutando. A paleta de cores complementares se inspira nos tons usados pelas mulheres que lutam nas frentes feministas do Brasil e do mundo” expressa o material de apresentação do conceito da saboaria.
Margarida Maria Alves
O nome Las Margaritas é inspirado na lutadora Margarida Maria Alves, sindicalista, defensora dos direitos humanos, dos direitos trabalhistas e inspiração da luta feminista. “A saboaria também é inspirada pela cosmovisão dos processos organizativos dos povos latino-americanos, e vem, a partir de sua práxis, concretizando as estratégias de organização de mulheres trabalhadoras que valorizam o processo produtivo artesanal, a educação popular e o respeito à perspectiva da saúde integral que nos conecta à mãe Terra”.
Para a professora Carla Beatris Valentini, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCS, a atuação da doutoranda na criação da saboaria evidencia a inserção social da Universidade, da pesquisa acadêmica e do próprio Programa, nesse caso “em articulação com a educação não formal”.
E não custa lembrar que, em tempos de pandemia, todo o processo de fabricação artesanal atende às medidas de higiene e são tomados os cuidados sanitários que garantem a qualidade e a segurança dos produtos e dos consumidores.
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Fotos: Saboaria
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