Estantes lotadas
Mais de 500 mil exemplares. Esse é o número estimado de itens presentes no sebo Só Ler, localizado na Rua Sinimbu, em Caxias do Sul. “É isso, no mínimo”, avisa o gerente da loja, Edicarlos Nardelli. De fato, ao olhar para as estantes lotadas e os estreitos corredores existentes entre elas, pode-se pensar que existam muito mais produtos. Nessa estimativa não estão inclusas as mercadorias expostas na filial da loja, na Avenida Júlio de Castilhos. Nem nas outras 16 lojas da rede, localizadas nos três estados do Sul do país.
A Só Ler iniciou suas atividades em 1997, em Santa Catarina. Com a expansão, chegou também a Caxias em 2003, como uma franquia independente. O gerente Edicarlos, que é sobrinho dos donos, está no ramo há 10 anos – este foi o seu primeiro emprego.
Ele conta que o seu público é variado, pois no sebo há todos os tipos de livros. “Temos ainda todas as linhas de revistas, desde artesanato até pornô, que são públicos totalmente diferentes”, explica Edicarlos. A loja também possui CDs, DVDs, LPs, gibis, entre outros itens. “De tudo um pouco a gente tem. O que mais vende é a revista de artesanato, que é o nosso carro chefe, devido à variedade e preço.”
Apesar de acreditar que os clientes procuram a loja devido aos preços baixos, e não em busca de raridades – já que essas podem ser localizadas na internet – o sebo possui uma Bíblia de 1732. Na verdade, havia dois exemplares, mas um foi comercializado, pelo valor de R$ 500.
Frequentadores
Nem todas as pessoas entendem o conceito de uma loja intitulada sebo. Edicarlos relembra de uma história inusitada: “Um cliente pediu se a gente comprava sebo de boi. Ele achou que a gente comprava e vendia esse tipo de sebo”, diz. Sebos, na verdade, são estabelecimentos que comercializam e fazem trocas de artigos usados, como livros e revistas.
Isso prova o quão variado são os frequentadores que circulam na loja. Ao longo da entrevista concedida ao Frispit, diversos clientes entraram e saíram do estabelecimento. Houve até uma interrupção: uma senhora que precisava de ajuda para encontrar CDs da “velha guarda” e, também, do Roberto Carlos.
Mais tarde, em uma conversa enquanto ainda procurava discos, Isolina Castelaci, 78 anos, conta que frequenta os sebos em busca do passado. Com a voz embargada, confirma que encontra muitas coisas que procura. “É difícil falar, porque é muito bom. Hoje em dia não é valorizado isso aí, então a gente tem que procurar no sebo. Acho que sem passado não existe história.” E explica, entre algumas lágrimas: “Desculpe, não estou triste, estou emocionada. É muito bom”.
Dona Isolina gosta de presentear amigos e familiares com o que encontra na loja. Mas o sebo traz mais que apenas objetos a ela. “Aqui estou procurando pedaços do meu passado. Assim recordo um tempo que deixou saudades muito lindas”, diz.
Luis Carlos Munitor, 39, também frequenta o sebo em busca de itens do passado. “Nas lojas não se encontra mais o que tem aqui. Procuro não tanto pelo valor, mas, sim, por encontrar o que não encontra em outros lugares”, relata. E acrescenta que todos os meses vai até o estabelecimento para conferir as novidades.
De fato, a constatação óbvia é a de que o número e a diversidade de pessoas que optam por sebos permitirá a essas lojas sobreviverem ainda por um longo tempo.
Texto e fotos: Sabrina Didoné