Escolhi ser feliz
Belas tarde de verão durante as férias garantiam mil pensamentos e sonhos de criança. A natureza dominava a paisagem, cheiro de flores que perfumavam o ambiente e diversos animais alegravam a vida. Menina de 12 anos, cabelos longos, pernas machucadas, mente cheia de ideias. Essa sou eu e esse é o lugar, onde, há sete anos, decidi que seria uma jornalista.
Convencer meu pai a dar-me uma câmera foi tarefa fácil, uma menina comportada, com excelentes notas na escola, ele jamais negaria. Assistir telejornais, grandes reportagens do Fantástico e documentários eram meu passatempo favorito. Porém, eu queria mais, queria fazer minhas próprias reportagens. Daí que surgiu a ideia de criar o Jornal Rural, como moro no interior de Veranópolis, assuntos desse segmento eram o que não faltavam.
Com câmera, caneta e papel em mãos, partia Daniela em busca de assuntos. Mas, eu precisava de uma cinegrafista, toda repórter precisava. Então, minha amiga de infância me apoiou na ideia e esteve comigo todos os dias das férias realizando entrevistas. Com um microfone de brinquedo verde e rosa, percorríamos os arredores das propriedades, enfrentávamos picadas de mosquito, animais, quedas de bicicleta, queimões, tudo pelo nosso jornal.
A primeira pauta que surgiu foi a respeito dos produtos que haviam na horta de minha mãe, depois a juventude de meu pai, a criação da Vinícola, a antiga olaria da família, até chegar em polêmicas da época. Uma delas foi a crise que a empresa avícola que meu pai trabalhava estava passando. Podem parecer assuntos sérios demais para uma menina tão jovem, mas não, eu não tinha tempo para esperar, eu queria mesmo ser uma jornalista.
O tempo foi passando, o Jornal Rural foi melhorando, e meu amor pela profissão só aumentando. Em projetos da escola, o meu papel sempre era o mesmo, a repórter, ai de algum colega se quisesse ser também. O momento de realmente escolher que faculdade iria cursar, foi, mesmo que pareça estranho, complicado.
Minha ideia já era consolidada, eu sabia que tinha nascido para ser uma jornalista. Mas a pressão da escola e de algumas pessoas me colocava na dúvida, dinheiro ou felicidade. “Você é muito inteligente, pode ser engenheira ou até médica, mas por que jornalismo?”. Essa era a frase que eu ouvi durante o meu ensino médio inteiro, frustrante, não é?
Ao chegar em casa da escola, desolada, eu assistia a meus vídeos do Jornal Rural, lia as matérias que havia escrito aos meus 12 anos em uma agenda antiga, conversava com meus pais e pedia ajuda a Deus. Mas, retornando às aulas, palestras sobre vestibular, cursinhos preparatórios, engenharia, medicina, futuro melhor, dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. Você é inteligente, vai passar de primeira, é ótima em matemática, química, biologia …. Tudo isso fez com que no segundo ano eu decidisse cursar Engenharia Química, o que causou enorme alvoroço e emoção para quem tinha medo que eu fosse uma “mera jornalista”.
Mas eu precisava fazer com que entendessem que meu futuro era conversar com as pessoas, ouvir e contar histórias, perguntar, ler e estudar. Fazer cálculos, realizar fórmulas e experimentos, ganhar mais dinheiro. Não! Definitivamente não era isso que eu queria, eu não havia passado os últimos quatro anos da minha vida sonhando com a minha faculdade de jornalismo e com meu futuro emprego de repórter para ser uma pessoa isolada em um laboratório.
Não, isso não. Eu escolhi viver e ser feliz, escolhi a alegria e a realização, escolhi amar o que faço e estudo, escolhi inspirar as pessoas que passam pelas mesmas dificuldades que passei. Sejam felizes, realizados e alegres, o dinheiro não compra isso! (Daniela Farenzena Affonso)