Do briefing à finalização
Muitas vezes, dentro do ambiente acadêmico, é difícil se ter uma noção exata da realidade do mercado de trabalho. Não no que diz respeito à questões de demanda ou áreas de atuação, mas de situações muito mais simples. Para alunos de Publicidade e Propaganda, por exemplo, de como funcionam exatamente as relações de trabalho dentro de uma agência. Para elucidar os estudantes sobre isso, ontem à tarde ocorreu a palestra “Criação publicitária: todas as etapas e algo mais”, ministrada pelo publicitário Charles Terra e parte da programação da Semana Acadêmica de Comunicação.
Terra atua na área há 18 anos – ele começou aos 15 como office boy de uma agência. Já durante seu egresso na faculdade, já atuava na área de criação. Ele explicou que a estrutura das empresas caxienses é muito diferente das em grandes capitais, como Rio de Janeiro ou São Paulo. “Lá existe uma hierarquia e uma estrutura muito bem definida. Tem até o profissional que só finaliza os arquivos para as gráficas, por exemplo. Aqui, como só temos agências de pequeno e médio porte, essas funções acabam se misturando”, aponta.
Fluxograma
Nas agências que Terra trabalhou, as etapas de produção seguem sempre um modelo semelhante. Os funcionários responsáveis pelo atendimento – que normalmente acabam sendo também os que atuam na criação – conversam com os clientes e produzem o briefing, onde todas as suas necessidades e objetivos estão descritos. Esse briefing é encaminhando então para a área que Terra considera “o coração” de qualquer agência: a criação, onde ele próprio trabalha.
“Antes se pensava na criação como uma área glamourosa, como se o criador ficasse o dia inteiro jogado em um sofá tendo grandes ideias. A figura do criador hoje mudou, ele precisa ser uma pessoa em primeiro lugar organizada, com disciplina de estudo e muitas referências”, desmistifica Terra.
E ele alerta para os que desejam seguir nessa área: “Se preparem para criar com rapidez e trabalhar sob pressão”. Mas algumas dicas podem ser de grande ajuda nessa hora. Terra acredita que a formação acadêmica é essencial, por apresentar uma base teórica. A experiência também – o aluno deve procurar por um estágio na área o quanto antes para já entender a lógica de funcionamento do ambiente de trabalho publicitário. E por último, mas não menos importante, bagagem cultural é fundamental. “Leiam tudo, assistam todo tipo de filme. Mesmo que você não goste, esse tipo de coisa fica gravada no subconsciente e pode emergir quando nós precisarmos”, explica.
Essa relação com o subconsciente é fundamental para a vida do criador. “A gente não consegue se desligar do trabalho, mesmo em casa continua pensando nos nossos projetos. E justamente por isso, uma ideia pode brotar do nada, quando a gente menos espera”. Claro que esse “do nada” é relativo: parte do processo de criação envolve pesquisa constante em busca de referências. “Até a questão da bagagem cultural é boa porque poupa tempo. Se tu sabe um pouco de tudo, já vai saber onde buscar mais informações sobre um determinado produto ou campanha”.
Outro aspecto fundamental da criação envolve o domínio do uso de softwares de edição e vetorização. Pela questão do porte as agências caxienses, o publicitário acaba assumindo também funções que seria específica dos designer, como a elaboração de layout. Por isso, Terra recomenda também que o profissional rabisque bastante. “Mas não precisa necessariamente saber desenhar. O importante é ter ideias, o trabalho braçal tu pode achar alguém depois pra fazer”, brinca. A dica final da criação é que se siga sempre o briefing à risca. “Nós não estamos criando para nós, estamos criando para o cliente. O publicitário não é um artista”, avalia.
Depois que o trabalho está pronto, ele é então apresentado ao cliente. É quando pode acontecer o “terror dos publicitários”: refazer a campanha porque foi rejeitada pelo cliente. E às vezes isso pode acontecer independente da qualidade ou não do que foi desenvolvido. “Uma vez o cliente rejeito um trabalho onde o vermelho era a cor predominante porque ele era do grêmio”, conta Terra.
Texto: Pedro Rech
Fotos: Carolina Luchese