Dicas de um telejornalista
Não tem PP? Então pode ser jornalismo mesmo. Foi assim, meio “sem querer” que o correspondente da Rede Globo em Nova York, Flávio Fachel tornou-se jornalista. Faltava apenas um semestre para se formar no curso de Engenharia Civil quando decidiu que queria estudar Comunicação e seguir os passos do seu pai que fora publicitário. Na faculdade de Manaus, onde foi morar, não havia PP na grade de cursos, Fachel então optou por jornalismo.
Prestes a se formar novamente, voltou ao RS e pediu transferência para a PUCRS. Fachel cumpriu a exigência de cursar mais dois anos e então obteve o diploma. Durante os anos de faculdade, o jornalista participou do Ecos da Fama, um programa sobre a Famecos, que contava com mais de 300 pessoas. Mesmo não divulgado para um público externo, os integrantes se puxavam , criavam coisas novas e obtinham bons resultados. Segundo Fachel “experimentando é que achamos caminhos novos”.
Como telejornalista, Fachel deu algumas dicas para os alunos que querem seguir a profissão. Para ser jornalista é preciso compromisso com a notícia, com a apuração e o descompromisso com a ideologia. Quando estamos fazendo uma reportagem para TV, precisamos falar com o ouvinte da mesma forma com que falamos com um amigo e não com palavras que utilizamos num texto. O telespectador registra na memória a imagem, a emoção e o comportamento do apresentador. Números são preferíveis deixar para o jornal impresso e/ou revistas, pois é provável que caia no esquecimento do telespectador.
Sobre a carreira internacional, Fachel afirma que o respeito com a imprensa estrangeira é muito valorizada nos EUA, ao contrário do que muitos pensam. “Eles valorizam muito o jornalista de fora e não existe discriminação”, diz. Mesmo estando em outro país, Fachel diz que não pode perder de vista o público que vive no Brasil. Por isso todas as matérias precisam ter um “olhar brasileiro”.
“Bandido se trata como bandido”
Fachel, que já cobriu conflitos na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, diz que não se dá voz nem destaque para marginal. “Bandido tem que ser tratado como bandido. A imprensa está do lado da lei, a qual o indivíduo está desrespeitando”, diz o jornalista.
Mesmo tendo feito um curso para jornalistas em áreas de conflitos, Fachel acredita que não existe um manual que vai dizer o que o profissional deve ou não fazer. “As coisas são imprevisíveis”. Quando questionado sobre a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Gelson Domingos da Silva, Fachel enfatiza que ninguém tem o direito de julgar. Se para ele aquela imagem era importante, para outro poderia não ser. “Ele conhecia os riscos, cada um sabe seu limite. Ninguém é obrigado a fazer o que não quer”, finaliza.
No fim do bate-papo, Fachel disse algo que deixou a maioria dos estudantes lá presentes refletindo. “Depois do fato não existe verdade, só restam versões. É impossível para um repórter reproduzir a verdade”. Ou seja, todos buscam ao máximo se aproximar da “verdade”, mas no fim só vai restar uma versão e, ela muda de jornalista para jornalista.
Texto: Gabriela Rossetti
Foto destaque: Fernanda Becker
Foto Post: Letícia K. Borghetti