À procura de raridades
Poderia se pensar que um lugar que guarda um livro de 1905 deve ser úmido, escuro e com cheiro de mofo. Mas o sebo Livraria da Marquês, que possui essa raridade, é o contrário disso tudo. O estabelecimento exala um perfume de incenso ainda na porta, chegando ao olfato de quem para diante de sua vitrine. Apesar de pequena, a loja é clara, banhada pelo sol que penetra nas suas estantes bem organizadas.
Osvaldo Bagatini, 72 anos, proprietário da Livraria da Marquês, vende um item de difícil comercialização. “Aqui em Caxias há poucas ofertas [de livros]. É uma cidade industrial, mas pouco cultural. Veja as livrarias que tem por aí, fora do sebo. Eles não vendem só livros”, garante. Se tivesse que pagar aluguel, não sobreviveria com a média de R$ 3500 brutos que vende por mês.
Justamente pela pouca oferta de obras existentes na cidade, os sebos, que comercializam livros usados, exercem um papel fundamental na busca por livros para os caxienses que, de fato, gostam de ler. Afinal, de acordo com Seu Osvaldo, “o caxiense não é muito de ler, de modo geral. Os que leem, leem bastante, mas são poucos”.
Mesmo que o livro procurado não esteja disponível na livraria, Seu Osvaldo encomenda pela internet de outros sebos de todo o Brasil. Dessa forma, é difícil o cliente sair sem o que procura.
O Início
Seu Osvaldo conta que decidiu abrir o sebo em 2005, como alternativa de ocupação após a aposentadoria. Depois de adquirir o imóvel, o proprietário começou o negócio com a sua coleção de 500 livros. “Começou pequeno, mas logo foi crescendo. Comecei a trabalhar também com gibis, LP’s e revistas”, orgulha-se.
Sete anos depois, não restou nenhum livro da coleção de Seu Osvaldo. Tudo o que há no sebo foi adquirido das pessoas. Os livros mais antigos, às vezes, provém dos herdeiros de pessoas falecidas, que vendem as obras, ou até mesmo as doam.
Atualmente, os campeões de vendas são os livros de autoajuda e os de espiritismo. Entre os outros itens comercializados na Livraria da Marquês, os gibis são os que mais se destacam. E os clientes, apesar de variados, tem uma característica em comum: gostar de ler. “Geralmente, as pessoas vêm pelo preço e para procurar livros que muitas vezes não vai encontrar nas livrarias”, finaliza Seu Osvaldo.
Texto e fotos: Sabrina Didoné
Gostei da entrevista e o que foi publicado está coerente com o que acontece. Os moradores de Caxias do Sul, a grande maioria não possue o hábito da leitura e, por isso tambem pouco incentivam os filhos à lerem. Geralmente procuram livros específicos indicados pelas escolas, cursos ou faculdades. Os governantes e os empresários querem pessoas com formação para o trabalho e não com cultura geral, pois estes teriam uma visão mais ampla da exploração do operariado pelos poderosos. Vejam que os cursos técnicos não são gratuítos, portanto os operários tem dificuldade em participar.
Poucos municípios dão incentivos para que os jovens adquiram livros para seu conhecimento,
Passo Fundo-RS. é um dos poucos onde são oferecidos meios para que os estudantes possam ler mais, sendo o município brasileiro que mais se lê.
Os governantes sabem que povo instruído, com cultura, é povo mais exigente, mais esclarecido, povo ignorante é mais fácilmente ludibriado.