164 Significados de Cultura
O auditório do UCS Teatro recebeu na noite de terça-feira, dia 20 de maio, a presença do ilustre professor, pesquisador e sociólogo, Renato Ortiz. A atividade consistia na palestra “A Cultura no Mundo Contemporâneo”, e fazia parte da programação do I Seminário Internacional de Letras, Literatura e Processos Culturais promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGLET (UCS) e Programa de Doutorado em Letras – PDLET (UCS/UniRitter).
A ideia principal da palestra era promover a reflexão a respeito de um conjunto de transformações que tem implicação na esfera cultural no mundo contemporâneo, pois “transformações como estas, geralmente não são discutidas com tanta profundidade”, destaca Ortiz. E a maneira para fazer isso é contrapondo alguns elementos do passado com a atualidade, criando a ideia de alteridade.
Fazendo uso da tese do escritor alemão Max Weber presente no livro “História da Sociologia da Cultura”, que conta uma espécie de história universal, Renato pontua que ao final do livro, o autor se pergunta em que ponto da história nós estamos? E a resposta, na época, é de que a técnica tem um lado sombrio e que de certa forma desumaniza as relações sociais. Embora soasse futurista para a época, pois o livro foi publicado em 1935, é nesse sentido que Ortiz discute o contraste entre algumas mudanças e as contradições que existem no mundo atual.
A constelação e as camadas
Para realizar o exercício de contrastar as mudanças, Ricardo faz uso de dois conceitos próprios: Constelação de Sentidos e Camadas Geológicas de Significados. Por Constelação de Sentidos, entende-se que em seu interior giram em torno de um eixo específico conjuntos de sentidos e significados. Esse conceito evita a ideia de definição de cultura, afinal já houveram tentativas de faze-la, em vão. “Em uma delas, dois antropólogos publicaram um célebre estudo em 1952, no qual encontraram 164 significados para o termo cultura. Passados meio século, hoje poderíamos acrescentar mais cinco ou dez outros”, pondera Ortiz.
As Camadas Geológicas de Significados é o conceito de que alguns dos significados do passado que se transformam, em seguida depositam alguns de seus elementos em camadas geológicas. Essas camadas serão operacionalizadas a partir do ponto de vista e interesse dos indivíduos que estão vivendo hoje no mundo. Isso desmistifica a ideia de anacronismo e evita o debate sobre a pós-modernidade. “As coisas de fato se transformam, mas não desaparecem. Muitas vezes existe uma ressignificação de coisas antigas e estes elementos são depositados nessas camadas geológicas”, explica Ortiz.
Perante estas ideias, Ortiz cita exemplos da cultura no passado: “Em 1962 a revista da UNE, que se chamava Movimento, teve um capa onde um jovem, na praia de Copacabana, ensaiava passos de rock e embaixo estava escrito: Rock and Roll – Manifestação do Imperialismo Americano”, para contrastar com exemplos da cultura atual: “No contexto no qual nos situamos, fica difícil pegarmos as músicas pop e vermos como uma expressão do imperialismo americano, pois agora elas fazem parte da nossa realidade”.
Após uma hora de debate a respeito das nuances que envolvem a cultura contemporânea, Ortiz faz uso da ideia criada a partir dos debate clássico entre antropólogos britânicos e antropólogos americanos que diziam: “Não é possível existir a cultura, porque se existir a cultura eu separo ela da sociedade”, para concluir que a sociedade é a cultura como um todo, pois nela estão presentes as intenções de caráter político e sociais que aparecem no contexto específico.
No mundo globalizado a esfera de cultura é uma espécie de caixa de ressonância dos conflitos que vivemos e quanto mais o mundo se globalizou, mais o tema da diversidade se fez presente. Agora vivemos em torno desse contexto específico, onde a esfera cultural é hiper tencionada por relações de poder, questões políticas e hierarquias que existem, mas que agora não se encaixam mais no quadro anterior que seria o quadro da nação, da oposição entre imperialismo e identidade autentica nacional. Por fim, Ortiz cita as transformações como reflexo da realidade atual: “Essas transformações são transformações de vulto e de fato elas incidem sobre o mundo contemporâneo”.
Texto: Estevan Daneluz
Fotos: Carolina Lange Albeche